quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O processo (3)



Na turma de 7º ano em que sou DT, há um miúdo em quem todos batem. Já tentei resolver o problema por diferentes maneiras: no colectivo da turma e em particular com os alunos envolvidos; já avisei a mãe do menino, já sinalizei o psicólogo da escola; já combinei tréguas entre os dois principais beligerantes de 12 anos, quando eles se queixaram que "isto já vem desde o infantário"... Mas a tourada continua.

Hoje, na aula de Formação Cívica, fiz um "tribunal" em que cada um dos contendores tinha um advogado sentado a seu lado e falavam à vez, quando a audiência impaciente não interrompia e eu impunha a ordem gritando mais alto. Ouvimos várias testemunhas. Acontece que o rapaz é batido nos corredores, mas dentro das aulas retalia com palavras que levam os demais ao rubro. Expliquei peremptoriamente que às provocações se deve responder com o desprezo, virando costas; que o pior que se pode fazer a um provocador é não lhe ligar; e que isso o fará desistir em pouco tempo. Pode-se, no máximo, responder à letra, com outras palavras, mas nunca bater, porque isso já é caso para chamar a polícia.

Mas não me entendem, ou não os entendo eu. Apesar de terem tentado manter tréguas, diz o outro que não conseguiu controlar-se, porque o colega insultara a sua mãe. E nisto gera-se o burburinho e do meio da turma vários se insurgem: que quem dissesse alguma coisa acerca da sua mãe, levava logo! Volto a insistir: «Quando vos chamam "filho da mãe", não estão a insultar a vossa mãe, estão só a provocar-vos; são só palavras». Em vão. Grande agitação na sala. Enfureço-me já: «Se vos chamam "filho da puta", chamam de volta "filho da puta da puta". Mas o melhor é virar costas. Bater é que não».

Ao usar as palavras malditas, quis desmistificar o insulto. No dia seguinte, já uma colega me contava que os alunos achavam que se podia dizer asneiras porque a DT tinha dito... Também no conselho executivo já sabiam da história. Na próxima aula de língua portuguesa vou ter que levar um dicionário para explicar que existem todo o tipo de palavras, mas que o seu uso depende do contexto em que são permitidas ou aceites.

Ao fim do dia recebi a mãe da criança e expliquei ao rapaz que tem que deixar de provocar os colegas: «Senão qualquer dia ainda vais parar ao hospital com uma pedrada na cabeça». «Como o outro», concluiu o miúdo...

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