sábado, 28 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
A mãe
Acompanhada pelo Director de Turma, recebi a mãe do rapaz do 10º que tantos problemas me tem dado. Há dois meses que pedia que fosse convocada à escola, mas só agora ela aceitou vir - para falar comigo. Depois de uma breve apresentação no tempo de um aperto de mão, sentámo-nos e expliquei à mãe os problemas de comportamento do filho que têm vindo a prejudicar o seu aproveitamento, pois, além de ser insolente, também se recusa a trazer material e a acompanhar as actividades da aula.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Resistência
Quando eu pensava que tinha já ganho resistência às contrariedades, à frustação e aos conflitos, de novo perco a noite em insónias por causa de uma menina que a mãe retirou à escola e de outro menino que se queixa de os pais lhe baterem com o cinto. E entre as desculpas de uma e as denúncias de outro, as evasivas das mães e a sinalização à CPCJ, navegam inúmeros episódios que procuram organizar-se na minha cabeça.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Se eu fosse professora...
terça-feira, 24 de março de 2009
Rotina (3)
segunda-feira, 23 de março de 2009
Cultura material
Numa aula de 10º ano, os alunos perguntam-me o que é uma "saia de pregas"; como a explicação verbal não parece suficiente, uso o meu casaco para demonstrar como se fazem as dobras do pano.
sexta-feira, 20 de março de 2009
Rotina (2)
Como não consigo motivar os que estão em "recuperação", bom, decidi puxar pelos que estão capazes de evoluir. Aproveitei a frescura da aula da manhã, com o 7º ano, para dar gramática da dura: pronomes com função de complementos directo e indirecto: -o, -no, -la, -lhes, -lho; mas os miúdos parece que nunca tal viram escrito. E o permanente jogo de tensão para manter o ruído controlável torna tudo muito difícil. A seguir, a aula de Estudo Acompanhado com a mesma turma decorre já no perfeito caos sonoro. O desânimo deve notar-se na minha cara inexpressiva, igual à que observo em colegas minhas.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Rotina
No 10º ano, 20% de positivas apenas. Nem percebo como, mas sei porquê: os alunos não levam livro, não tiram apontamentos, não ouvem o que eu digo, não fazem os trabalhos de casa e, na aula, recusam-se a colaborar; portanto, não é de estranhar.
quarta-feira, 18 de março de 2009
terça-feira, 17 de março de 2009
Trivialidades (2)
Apesar de ter visto e revisto a conjugação verbal (só no modo indicativo), ao fazer a preparação para o teste, constato de novo que muitos alunos do 7º ano não conseguem distinguir um tempo passado de um futuro. Eu ajudo: «"comeu"aconteceu ontem, é passado; "comerá" é amanhã, é futuro». Mas não entendem, nem eu entendo por que não entendem.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Trivialidades (1)
Hoje encontrei um miúdo do 5º ano a tirar o pipo a um automóvel de professor. Peguei-o pelo braço e levei-o ao Conselho Executivo. Ele veio sem resistência e lamuriando-se: «Deixe-me ir embora, não volto a fazer, por favor...» Não lhe respondi sequer, mas como ele insistia, expliquei: «O que estavas a fazer é muito grave. Já viste o que isso pode prejudicar o dono do carro?» Ele inventava outras saídas: «Não fui eu, é outro rapaz que anda a fazer isso...»
sexta-feira, 13 de março de 2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
Instantâneo
Espero não vir a ter problemas por mostrar uma cara fotografada. Hoje em dia, tudo é confuso. «Desde que, em 1999, apareceu o concurso Big Brother, as pessoas começaram a tomar consciência de que o real pode ser manipulado a desfavor dos seus actores. Depois veio o 11/9 e a paranóia da suspeita e da vigilância. O crescimento imparável de câmaras de vigilância, primeiro, e em seguida das câmaras de telemóveis, introduziu a noção desconfortável de que a imagem de cada um é passível de ser apropriada. Hoje, acho cada vez mais difícil filmar ou fotografar as pessoas. Todas se retraem ou reagem mal. As pessoas perderam a inocência. Inúmeras vezes dizem que não querem ser filmadas e eu deixei de me sentir confortável na pele de documentarista. Chega a apetecer às vezes filmar nas costas das pessoas um filme sobre as costas das pessoas» (escrito em 2005 no meu blogue Doc Log ).
quarta-feira, 11 de março de 2009
Apontamentos
1. O absurdo novo programa de Língua Portuguesa; alterado sem avaliação do anterior programa; com carga pesada de conteúdos linguísticos; desajustado do nível real dos alunos.
2. Área de Projecto: cancelei os trabalhos de grupo, desde o primeiro período, porque os grupos só sabem barafustar; cancelei as idas ao CRE, porque os miúdos só brincam. O método: trabalho individual de pesquisa; trabalho de grupo só fora das aulas. Objecções dos alunos. Na aula: mini-pesquisa, para aplicação de regras de citação e referência. Literacia informática nula: não sabem reconhecer o URL nem a fonte de informação.
3. Conjugação verbal à moda antiga: cantar os tempos verbais, um por um; ordem arbitrária, maneira de controlar a dinâmica da aula. Falta de bases.
4. Cordão humano: cansaço; já não me sinto solidária.
5. Guerra de pedradas, formas de intimidação e métodos de gang; Assembleia de Turma: participação disciplinar em colectivo.
6. 10º ano. o mesmo do costume: eles chateiam, eu mando sair com FD; é um braço de ferro que os diverte e a mim já me deixa indiferente.
7. Sinalização à CPCJ: a mãe do aluno nunca veio à escola, depois de vários avisos postais; não atende o telefone. O CE telefona com número incógnito e ela atende; perante a ameaça de o processo passar para CPCJ, presta-se a vir à escola no mesmo dia.
8. Capitulei: desisti de lutar: já tudo me parece uma repetição. Não é possível fazer mais, nem mudar a realidade. Estou mais tranquila, parece que atingi o ponto de equilíbrio (que no início não entendia nos meus colegas).
9. Resultados dos testes: demasiados erros: até as cópias têm erros; ninguém se importa; "mas toda a gente dá erros", diz um miúdo; "eu não dou erros", respondo, nem as pessoas que tiraram a 4ª classe de antigamente (que sabem mais do que quem hoje tem o 9ºano); o aluno incrédulo: "a setora não dá erros? toda a gente dá erros!"; resposta reforçada: "eu não dou erros, posso às vezes enganar-me, mas depois corrijo"; "uma miúda: "a setora dá erros no quadro!"; responde outra miúda: "não é isso! pode não se perceber a letra, mas a setora não dá erros, percebes?"
terça-feira, 10 de março de 2009
A guerra (3)
E a guerra civil continua.
A escola EB2,3 Francisco Sanches de Braga foi palco, pela segunda vez num mês, de uma agressão. Desta vez a um vigilante que levou, segunda-feira, uma cabeçada dada pelo tio de um aluno, disse fonte escolar. A 10 de Fevereiro, um outro tio de um aluno agrediu um professor da mesma escola.
Segundo a fonte, o vigilante ficou a sangrar abundantemente, já que a cabeçada lhe provocou um golpe na testa e obrigou a tratamento hospitalar, para suturar a ferida.
Dias depois, os responsáveis escolares foram confrontados com uma outra tentativa de agressão: um membro do estabelecimento de ensino garantiu que o caso se deu depois de uma professora ter chamado a mãe de um aluno para lhe comunicar o seu alegado mau comportamento nas aulas.
A mãe terá, então, dado duas bofetadas ao filho, em plena escola, o que o terá enraivecido levando-o a querer entrar na sala de professores para bater na docente, tendo chegado a ameaçá-la.
sexta-feira, 6 de março de 2009
terça-feira, 3 de março de 2009
Sala de professores
Num intervalo, desabafa uma professora:
- Fui dar teste aos miúdos e não queriam ficar em carteiras separadas. Agora eles é que decidem onde ficam. Estavam lá atrás a carregar os telemóveis, não pude fazer nada...
Eu pergunto:
- Mas não lhes tiraste os telemóveis?
- Agora não se pode!
- Podes, sim, e devolvem-se no fim da aula.
- Eles não deixam. E ainda me disseram: "Vá para o ...alho". Isto é impossível.
- E o que fizeste? Não mandaste sair com falta disciplinar?
- Não. Para quê? Depois o Conselho Executivo diz que devia ter aplicado medidas correctivas antes.
- Mas assim eles vão repetir e fazer pior.
- Olha, quando chegarem ao 7º ano, vocês ensinam-nos.
- Aí já é tarde.
- Pois, mas sabes, é que um dos parâmetros da avaliação é os problemas disciplinares que temos. Estás a ver, para mim é mais importante subir de escalão, já estou parada neste há 8 anos. Não julgues que os professores do 5º escalão são tratados aqui de maneira igual aos do 10º.
Fiquei sem palavras, estarrecida.
segunda-feira, 2 de março de 2009
Senso comum
Vontade. Não é possível ensinar quem não quer aprender. A bondade do sistema de ensino básico "obrigatório" pressupõe que os alunos desejam aprender; e se isso já foi assim, em tempos recentes, hoje tal não acontece. Para aprender é preciso motivação; a motivação depende de dois factores: a) reconhecer o valor da escola; b) obter a recompensa do esforço.
Desmotivação. Se os alunos passam de ano automaticamente, mesmo sem se esforçarem ou sem saber, é evidente que, por experiência própria ou a exemplo dos colegas, no ano seguinte, farão o menos possível. Mas sem um pequeno esforço, nem que seja apenas a vontade, não pode haver aprendizagem. A desmotivação de uns serve de exemplo aos demais.
Heterogeneidade. A lei preconiza, tentando evitar discriminações, que uma turma escolar deva ser heterogénea; o que pode acontecer em vários aspectos: misturando sexos, idades, níveis económicos, origens sociais, credos, culturas e até alunos um pouco melhores e alunos menos bons. O que não pode é ser demasiado heterogénea a nível do grau de aprendizagem dos seus alunos. Mas o preceito da homogeneidade tem sido tomado em absoluto; assim existem grandes resistências à criação de turmas de nível, como se isso fosse criar um novo classismo.
Progressão. O conceito de turma ou classe implica uma necessária, embora relativa, homegeneidade a nível das aprendizagens, sem o que é impossível progredir. Se a maior parte da caravana puxa para a frente, os outros vêm arrastados; mas se a maior parte puxa para trás, ninguém consegue avançar. Assim, visto que o sistema actual de avaliação "preconiza" a progressão de todos os alunos, então será necessário que eles sejam escalonados - em turmas de nível - consoante as aprendizagens feitas, sob pena de ao ensino em colectivo se tornar impossível.
Descrédito. Se a escola e os professores não avaliam as aprendizagens - como lhes cabe - deixam de ser valorizados pela sociedade e perdem o crédito indispensável para serem referência e modelo. Quando os pais em casa dizem mal da escola, é certo e seguro que os filhos não conseguirão aprender; quando a ministra da Educação toma a mesma atitude, promove o descrédito da escola e a sua ruína, como se tem verificado nos últimos anos.