terça-feira, 30 de setembro de 2008

Faca e alguidar

Depois de duas bombas, hoje houve cena de faca. Um aluno atacou outro no ombro. Veio a polícia da "Escola Segura", levaram o culpado com eles, que já era maior. O mais pequeno foi ao hospital. Isto conta-se nos corredores, mas ninguém sabe como foi.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As bolas de papel



É um clássico. Atirar bolas de papel aos colegas. A coisa em si não incomoda muito, mas serve de pretexto para instabilizar a aula com as queixinhas à professora. São do 10º ano, mas parecem ter 12 anos. Na aula anterior, apanhei dois a mandar bolas, saíram logo com falta disciplinar. Mas insistem de novo. Eu nunca vejo, porque eles atiram quando eu não estou a olhar. Disse-lhes: «será que vocês são da geração que precisa de uma câmara de vigilância para se portar bem?». O bom senso não resultou. Saquei a minha máquina "fotovideo" e pousei no cimo do armário. Ficaram na dúvida se estava ou não a filmar. A pequena agitação durou 1 minuto. Depois alguns não resistiram e voaram mais umas bolas, enquanto faziam um trabalho escrito. No fim, antes de saírem, cada um limpou o espaço próximo da sua mesa.

Depois de visionar o filme, já posso participar ao DT sobre quem foram os responsáveis. O DT falará com eles e, se for preciso, telefonará aos pais. É assim a admirável escola nova.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Horário pesado



Tenho uma turma de 7º ano à qual dou 11 "tempos lectivos" por semana, a saber:
  • Língua Portuguesa (5h), a única disciplina onde há programa, matéria e objectivos a cumprir (teoricamente, porque na prática os miúdos vêm dos anos anteriores sem saber sequer escrever, alguns ainda estão ao nível da 2ª classe, andam a escrever palavras por dedução fonética);

  • Área de Projecto (2h), uma pseudo-disciplina interdisciplinar onde eles vão aprender a fazer projectos sobre o que lhes apetecer, onde trabalham em grupo e, inevitavelmente, o caos suplanta a aprendizagem orientada;

  • depois têm ainda Formação Cívica (1h), que é, suponho, para os ensinar a portarem-me correctamente nas aulas, mas parece-me que isso devia ser ensinado nas aulas úteis; criar uma disciplina só para isso é meio contraproducente, pois não há programa definido;

  • há ainda Estudo Acompanhado (2h), onde o professor tem que ajudar o alunos a aprender a estudar, sendo um espaço de trabalho individual não estruturado, meio caminho andado para o caos e para desrespeito da autoridade da professora, que faz o papel de paizinha;

  • e ainda temos a 11ª hora, a chamada Assembleia de Turma, espaço criado para resolver problemas prementes da turma, colectivos, claro, portanto, os disciplinares, resultado (acho eu) de haver demasiadas aulas inestruturadas que não servem para aprender, mas apenas para encher o tempo e a paciência dos alunos e dos professores.
Quando voltar, na semana que vem, a dar a minha matéria, o que poderei esperar da dinâmica anormal criada nestas outras 6 horas quase inúteis? Pois sim, concordo que os alunos devem ser ensinados a estudar e a fazer trabalho cooperativo, mas sempre se fazia isso dentro das várias disciplinas, há pelo menos 30 anos que essas metodologias entraram no ensino. Agora, os meios já não servem os fins, os próprios meios são os fins. O processo virou meta-conhecimento; em vez de se ensinar qualquer coisa, ensina-se o eduquês aos educados.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O respeitinho e a chantagem

Uma professora contava-me acerca de uma turma de 7º ano: «E disse-lhes: o que eu quero é que vocês gostem de mim». Outra professora, mais desanimada: «Eu perguntei-lhes: o que é que vocês querem de mim?».

Dias depois, diz-me um aluno de 10ºano: «Ó setora, nós queremos ver o resto do filme do outro dia, senão a gente depois não gosta de si». Pois, respondo: «Eu não estou aqui para gostarem de mim. Estou aqui para vos ensinar». Ele insiste: «A setora tem que criar uma boa relação pedagógica aluno-professor». Outro aluno: «A setora não está a cumprir o seu dever: esqueceu-se de marcar um erro no meu trabalho». São cheios de lábia e percebo até com quem aprenderam o jargão.

Fazem a pequena chantagem psicológica. Interrompem a aula quando lhes apetece. Repetidamente, tenho que fazer a pedagogia da civilidade: «Não podes interromper quando eu estou a falar para todos. Espera a tua vez. Mete o dedo no ar e falas quando eu disser. Sentas-te nesse lugar, porque quem manda na aula sou eu».

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Kit professor


terça-feira, 23 de setembro de 2008

O fim da alegria



A chamada Ocupação Permanente dos Tempos Escolares - OPTE - são as substituições: falta um professor, chama-se outro para tomar conta da turma naquele período de tempo. Há uma "bolsa" permanente de professores disponíveis para tomar as rédeas de turmas que não conhecem, a quem não têm nada para dar a fazer, senão uns joguinhos, uns dedos de conversa, umas fichas de cidadania, qualquer coisa. Os alunos têm má vontade, os professores boa não têm, mas obedecem às ordens do ministério.

Haverá momento mais feliz na escola do que aquele em que falta um professor? Todos sabemos que não. Todos sabemos que os alunos gostam da escola sobretudo pela socialização e que, para um adolescente, o mais importante são os amigos. Dantes eram livres de ir para o jardim conversar, brincar, correr, enfim, gastar aquela energia imparável que é própria dessa idade. Tudo aquilo que faz parte da sua aprendizagem vital e crescimento saudável. Agora só podem conviver com os amigos nos escassos intervalos de 10 a 20 minutos e na hora de almoço. Todo o seu tempo está regulado. Não têm escapatórias, momentos de excepção, um pouco de aventura. Estão programados para terem um professor em permanência a dar-lhes fichas ou sermões. Em vez de voltarem à sala de aula com as energias gastas e vontade renovada de trabalhar, chegam à aula seguinte eléctricos, dispersos, fartos, desrespeitadores. Quem aguenta é o professor que se segue.

Os professores são esvaziados da sua função de ensinar com pertinência e dentro de um limite de tempo aceitável. Agora parecem estar ali para impedir os jovens de manifestar a sua vitalidade e alegria. Afinal, se falta um professor, qual é o problema de dar folga aos alunos? Não devia ser nenhum. A OPTE é anti-pedagógica, é preciso dizê-lo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Responsabilidades

A escola actual não cuida apenas dos alunos, mas toma conta das famílias. E bem. Se o aluno não traz a convocatória para a reunião de pais assinada, o director de turma (DT) telefona a avisá-lo. Se o encarregado de educação (EE) não está contactável, porque o aluno declarou um telemóvel falso ou desligado, o DT manda para casa uma carta registada (e uma não registada, para ver qual chega primeiro). Se o EE não vem à escola para tomar conhecimento das faltas do educando, o DT contacta a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. É responsabilidade da escola responsabilizar os pais.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Memória (2)



"Manhã Submersa", filme de Lauro António a partir do romance de Virgílio Ferreira. Um rapazinho de 12 anos vai para o seminário (o papel do reitor é desempenhado pelo próprio escritor). Os alunos até aparecem interessados nos velhos métodos disciplinares da geração dos seus avós. Para a semana começamos a matéria por Vírgílio Ferreira.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Bomba



Puseram uma bomba no pátio dentro de um caixote de lixo de cimento. Veio a polícia. A criançada tenta aproximar-se apesar da vigilância do auxiliar de educação. A minha aula com o 7º ano já começa em agitação. Ao fim de 45 minutos, recolho os testes de diagnóstico e abro a porta à professora que vem dar outra disciplina (não há intervalo na transição). A professora entra e é assobiada pelo colectivo de alunos. Dou um berro: «Todos lá para fora e voltam todos a entrar». Eles saem dando uivos de alegria. Colocada à porta, faço-os entrar um a um em silêncio. Saio e fecho a porta.

P.S. Na manhã seguinte, começo a aula em perfeito silêncio. Admoestação geral com participação escrita. Relembro as regras de conduta que eles mesmos tinham estabelecido e aviso que contarei o facto aos pais nesse mesmo dia na primeira reunião do ano.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Memória



Há 20 anos, fui eu quem decalcou as letras desta etiqueta na (que já era) velha biblioteca.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Os contentores (2)



Afinal, adorei os contentores (aka "monoblocos"). Têm excelente acústica, sem reverberação, têm ar condicionado e o tamanho justo bem à medida de uma turma. Muito feng shui.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Material escolar



Primeira aula ao 10º ano do curso profissional. Muitos alunos não trazem nem caderno nem sequer caneta. Felizmente uma professora prevenida (com o molho de utensílios acima) nunca deixa um aluno de mãos a abanar. Primeira redacção sobre «O meu percurso escolar»: «Não gosto da escola, é muito "secante". Quero ter sucesso na vida».

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Planta da sala



Recepção aos alunos do 7º ano pela DT (Directora de Turma). Entram na sala por ordem numérica de pauta (que corresponde à ordem alfabética) e sentam-se no lugar designado pela professora. A tradição costuma arrumar os alunos da direita para a esquerda horizontalmente, de modo que os que têm nomes com letras iniciais mais avançadas ficam sempre mais atrás e se tornam aos poucos mais desatentos e piores alunos. A arrumação agora foi outra: em filas verticais e em ziguezague. Além de acabar com a injustiça dos nomes por discriminação alfabética, facilita a recolha e a distribuição dos trabalhos por ordem. Ao professor basta-lhe fazer uma ronda rápida da sala.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Isto começa



Uma pessoa adapta-se em pouco tempo. Ao terceiro dia comecei a compreender que nenhuma reunião começa a horas, mas geralmente acabam sem se ter tratado tudo o que haveria a tratar. Já me tinham avisado: a escola está diferente. Sim, de tudo é preciso fazer acta, planificação e relatório. Os professores passam o tempo a perguntar uns aos outros as regras e os procedimentos que poucos sabem exactamente quais são. É a burocracia escrita de transmissão oral. A sensação é que tudo está mais desorganizado, porque há organização demais.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Os contentores



"É ali que os alunos vão ter aulas? Pensei que fossem os contentores das obras."
Uma gaffe de José Sócrates, à chegada ao Liceu Pedro Nunes, marcou ontem o arranque de uma visita a três escolas de Lisboa, que serão totalmente remodeladas. (in Correio da Manhã)

Foto de A Educação do meu Umbigo. Telejornal de 2 set.2008.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Mas isto não começa?



Reunião de Departamento às 9h30. Estão uma dúzia de professores dentro da sala e são já 9h45. A luz geral apaga-se. Enfim, não acontece mais nada. Mas isto não começa? Às 9h50 a professora que orienta a reunião manifesta-se: «Colegas, já passaram 20 minutos da hora marcada para esta reunião. Vamos começar». Pouco depois é interrompida por uma professora que entra na sala e vem bichanar-lhe ao ouvido: «A colega X vem um pouco atrasada, mas vem...». Resposta, como quem quer dificultar a coisa: «Mas a reunião era às 9h30...». E virando-se para a "turma": «Quem quer fazer a acta?».