sábado, 30 de maio de 2009

Marcha


70 mil professores.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O desgosto


O cansaço, o abatimento, ao fim de 9 meses de luta. E o desgosto, que surge de ver tudo a piorar e de não podermos gostar do que queríamos gostar. Já me têm perguntado se gosto de dar aulas; respondo: se os alunos quisessem aprender eu gostaria. Assim é um desgosto. Como um desgosto de amor ou o desgosto de ver morrer alguém, assim é o desgosto de ser professor: ver a escola a morrer - assassinada - e nada conseguir fazer para a salvar e aos alunos. O desgosto não mata, mas mói e corrói.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

As perguntas (2)



Diálogos na "aula de educação sexual" com a turma de 7º ano. À pergunta sobre "qual é o sentimento antes de fazer amor", saltaram logo respostas dos alunos (e entre parêntesis as da professora de ciências):
- É o amor.
- Não é, é a necessidade, só.
- Tem que se gostar.
- Querer, ter vontade. Não o obrigarem.
(- E saber as consequências e os riscos.)
- Como é que os homens das cavernas sabiam como deviam fazer amor?
(- Isso é intuitivo, não é preciso aprender.)
- Qual é diferença entre fazer amor e fazer sexo?
- Fazer amor é para ter filhos, fazer sexo não.
- Quando os casais não querem ter filhos, fazem sexo só.
- Sim, o sexo é quando não se quer ter filhos.
(- Será que queres dizer que fazer amor é numa relação duradoura? Dentro de um casal, as relações sexuais vão ser todas com amor.)
- Mas também há sexo oral.
(-Isso faz parte da relação sexual.)
- Qual é idade melhor para começar a ter relações sexuais?
- 18 anos.
- 16 anos.
- 15 anos.
(- Quando se sentirem preparados e já estiverem desenvolvidos e maduros. Depende de cada um.) 
- Uma pessoa não vive sem sexo, não é, setora?
(- Só sabemos as respostas à medida que vamos crescendo.)

A profilaxia do preservativo ficou para a semana que vem...

(Imagem: textos recortados pelos alunos a partir da colecção Superadolescente.)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A luta continua



Não há duas sem três: 10 razões para ir a manifestação de 30 de Maio, in http://movimentoescolapublica.blogspot.com/

terça-feira, 26 de maio de 2009

Paralisação



Eu paralisei. Os dois primeiros tempos da manhã. De acordo com o pré-aviso de greve. Mas, na minha escola, o pequeno folheto afixado mal se via a um canto do placard sindical. Reunião não houve. Uma colega com quem falei não sabia da "greve". Outra atalhou: «Os sindicatos dizem que há pouca mobilização». (Em jeito de desculpa para não fazer greve?) É que aqui os resistentes são poucos. Só 4-quatro-4 não entregámos os famigerados OI (objectivos individuais). Por aqui a luta está paralítica.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Kit professor (4)


Anti-stress. Estabilizador de saúde mental.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

As perguntas


Em Formação Cívica, alguns alunos foram (tentar) apresentar aos restantes aquilo que eles consideraram mais importante saber sobre a fisiologia do outro sexo (tal como proposto em Área de Projecto). Grande excitação e balbúrdia. Ainda bem que deixei este assunto para o fim do ano, pensei. Entretanto eu ia recolhendo num saco perguntas anónimas para serem respondidas na próxima semana por uma professora de ciências "convidada". Aqui vão elas:

A partir de que idade se tem o período?
Porque mudamos o nosso comportamento?
O que é SPM?
O tampão tira a virgindade?
Pode-se engravidar com um tampão?
A partir de que idade é que se pode fazer relações sexuais?
É verdade que os rapazes têm “sonhos molhados”?
Como é os espertozóides a olho nu?
Como se faz amor?
Quando é o momento certo para perder a virgindade?
Qual é o sentimento antes de fazermos amor?
Como é que se faz amor? Ficarei feliz se responder...
Que sentimento se deve ter quando se faz amor?
O que se faz depois de Amor?
Quando se tem mestruação deve-se fazer amor?
Tem de se usar pílula quando acaba-se de fazer amor?
Quem faz sexo com camisinha engravida? Ou nem por isso?
As raparigas têm que usar preservativo?
Como se põem os preservativos das mulheres? Funcionam da mesma forma?
Como é que o homem põe o pénis na vargina da mulher?
Dói a vagina de fazer sexo?
E se entrar no buraco errado o que acontece?
Por que é que as meninas têm mais a tendência de fazer sexo com os rapazes?
É difícil ter filhos?
Como se faz um filho?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O coma


Voltou a balbúrdia à turma de 7º ano, que na semana passada parecia ter melhorado... Efeito de antecipação do final das aulas, talvez, efeito secundário da visita de estudo, ou efeito do tema da sexualidade que introduzi em Área de Projecto e Formação Cívica, não sei. 

Dada a agitação, não houve trabalho de grupo. Apenas distribuí as fotocópias individualmente. Na primeira (comparando gráfica e verbalmente o desenvolvimento fisiológico de rapazes e raparigas durante a puberdade), pedi que sublinhassem apenas o que ainda não sabiam. As segundas fotocópias (sobre o desenvolvimento dos órgãos reprodutores) distribuí-as diferentemente a rapazes e raparigas e pedi-lhes que sublinhassem aquilo que achavam importante que o outro sexo soubesse. Para a semana intervirão as professoras de ciências.

O episódio engraçado foi quando, entre as minhas admoestações acerca do comportamento "anormal" e "doente" da turma, uma miúda retorque: «A setora é que esteve em coma durante 5 anos!» Como?, pergunto. «Atão não esteve? Com um problema nos rins? É o que toda a gente diz.» Sorri absolutamente. Não, respondi, estive 5 anos fora da escola a fazer doutoramento. «E o que é isso?». Então escrevi no quadro a sequência dos graus académicos após o 12º ano. «Tanto tempo desperdiçado», vociferou outra miúda. Não, não, respondi, eu gosto de estudar, e reforcei, é o que eu mais gosto de fazer (a pensar nos 4 ou 5 bons alunos que me estavam a ouvir).

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Faces


Olho os meus colegas. Faces crispadas, tensas. Marcadas, precocemente envelhecidas. Resistentes. Sofridas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A visita


Arrependi-me. De os ter levado ao Museu das Comunicações. O museu é excelente e importantíssimo, nesta época de comunicação, em que já poucos se lembram - e os jovens ignoram - como era comunicar há 15 ou 30 anos. Os miúdos deliraram com os telefones de disco rotativo - que lá existem para experimentar - mas tiveram bastante dificuldade em perceber como discar os números... 

Portaram-se muito mal. Tocavam em tudo, dispersavam-se, conversavam, entornavam água nas mesas, gritavam o tempo todo, atiravam-se para cima dos sofás. Enfim, uns selvagens, incapazes de se portarem socialmente. O que vale é que as guias eram tesas e conseguiram, ainda assim, impôr-lhes algum respeito e contenção. As outras turmas com quem nos cruzámos comportavam-se ordeiramente. Senti-me envergonhada. Nunca mais.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Brincadeiras (3)


No meu tempo dos 10 a 13 anos, tínhamos várias brincadeiras, desde o jogo do berlinde, que era favorito, passando pela apanhada, as escondidas, o futebol, o básquete, o vólei e o ping-pong, até subir às árvores e construir casotas de madeiras velhas. As meninas jogavam muito ao elástico, ou às cinco pedrinhas (que equilibravam sobre as mãos). E havia aqueles jogos de lápis e papel, como o jogo do galo, a batalha naval e outros cujo nome e as regras esqueci, além do "verdade ou consequência". Eram todas brincadeiras organizadas segundo um plano prévio, estruturadas, e pode dizer-se que não havia conflitos nem zangas. Aprendíamos os jogos com os amigos e colegas, nenhum adulto no-los ensinava.

Hoje, as brincadeiras resumem-se só a duas: futebol e wrestling. São jogos quase sem regras. Os miúdos não conhecem outros e provavelmente fartam-se da variedade mínima. Brincam aos gangs desde cedo e o diálogo que mantêm passa quase sempre pela provocação e pelo conflito.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Tourada (2)


Estava a "dar" uma aula de substituição no Centro de Recursos. Um miúdo de 11 anos atira-se com violência a outro, bem mais alto. Suspendo-o pelo braço e levo-o para a sala anexa onde se recebem os alunos "agitados". O miúdo chora de raiva, dizendo que o outro é que começou e que ele próprio não tem culpa. Foge de lá e volta, mas uma professora persegue-o e leva-o de novo.

Daí a um bocado mandam-no de volta e, já mais calmo, amocha numa cadeira a lacrimejar pela face abaixo. Vou lá falar com ele para saber o que se passa. Continua humilhado e profere frases de vingança. Isso não pode ser, digo, se começam a bater-se isso não acaba e magoam-se os dois. «O meu pai vem cá e bate nele». Isso não pode ser, senão vem depois o pai dele e bate em ti, respondo. «E o meu pai bate no pai dele». Isso não pode ser, senão ainda acabam a matar-se uns aos outros, continuo eu. E ele pega na deixa: «O meu pai vai matá-lo». E depois vem o pai dele e mata-te a ti, acrescento. «Quero lá saber!» Então se não te importas de morrer, escusas de chorar, digo-lhe e afasto-me. As lágrimas secam.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Altos e baixos


De manhã cedo, a caminho da escola, encontro uma colega apressada. Seguimos juntas. Diz-me que se deitou às 4 da manhã; eu respondo de acordei às 5 com insónia e me levantei para ir adiantando trabalho. Já na sala de professores, encontro outra professora que se queixa de andar a dormir 3 horas por noite.

Após enfileirar de novo os alunos à porta, a aula de Área de Projecto corre surpreendentemente bem. Eles sabem que vão voltar a fazer colagens e esforçam-se por seguir as regras. Junto-os em grupo, de novo, após 6 meses de quarentena. Ainda não é para fazerem trabalho em comum, é só para aprenderem a partilhar as tesouras e as revistas, e para irem conversando sobre os textos que eu distribuí, com temas de sexualidade. Quando se aproxima a hora do final da aula, começam espontaneamente a apanhar os papeis do chão e a arrumar as mesas. Quando tocam, saem ordeiramente. Fiquei espantada.

Na aula a seguir de 10º ano, o aluno por quem chamara a polícia há 6 meses atrás, resolve reclamar por eu ainda não ter visto os testes (realizados uma semana antes), dizendo que “parecia impossível” que numa escola com muitos menos alunos do que aquela em que antes andou os professores se atrasassem a ver os testes. Respondo-lhe que os professores têm muito trabalho, muitas responsabilidades e muito stress e que os alunos não têm moral para fazer tais críticas, particularmente ele, que faz menos que o mínimo (aludindo por alto ao facto de o aluno não trazer para a aula sequer papel e caneta e dormir frequentemente). 

Aí o rapaz enfureceu-se e começou a vociferar que eu era ainda pior que os outros, que era “inadmissível”, etc. Disse-lhe, sempre com calma, que não admitia que ele falasse assim. Continuou. Disse-lhe que saísse da sala e recusou-se. Repeti a indicação avisando que teria que chamar o CE. Liguei para o número central da escola, mas ninguém atendia. Chamei uma funcionária que passava no jardim e pedi-lhe que me ajudasse. Ela entrou na aula e disse ao aluno para sair. Ele recusou-se. Veio uma segunda funcionária que entrou na aula e insistiu, junto dele e com calma, para que saísse. Mas não se calava e começou a atacar-me verbalmente, dizendo que eu não “regulava bem da cabeça” e, entre muitas outras coisas, proferindo uma frase que recordo bem: «Esta mulher é uma charrada e andava aí a dizer que eu é que era charrado; o que é que ela sabe da minha vida?”

Entretanto liguei de novo para o PBX e tentaram passar a chamada ao CE, mas ninguém estava. A seguir veio um terceiro funcionário, chamado pelas colegas, e de novo a primeira funcionária que trouxe o telefone portátil e o entregou ao aluno para falar com uma funcionária do PBX, que conseguiu demovê-lo e fazer sair.

A aula prosseguiu, mas daí a 10 minutos o homenzinho de 19 anos voltou a entrar, alegando ser o segundo tempo. Disse-lhe que não tinha condições para ficar na aula. Sentou-se e de novo se recusou a sair, dizendo que falara com o Director de Turma e este lhe dissera para regressar à aula. Mandei-o sair e disse que fosse então chamar o DT. Recusou-se. Peguei nas minhas coisas e saí dizendo que ia eu chamar o DT e mandei-os sair da sala. Encontrei o DT, que foi comigo até à sala de novo, onde entrei com os restantes alunos. 

Acabei por dar apenas meia hora de aula, embora com a oposição passiva de todos os alunos, que não leram uma linha do texto que eu trouxera para a aula, o que verifiquei quando, após 15 minutos, comecei a fazer-lhes perguntas sobre o texto.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

As escravas


Numa reunião de DT (directores de turma), queixa-se uma colega do excesso de trabalho e de tarefas novas avulsas e sucessivas que são descarregadas para cima dos DT. "Isto é uma escravatura", acrescenta com propriedade. E recolhe das restantes professoras (são todas mulheres) uma espécie de anuência silenciosa. 

Aproxima-se agora a fase final do ano lectivo: é preciso renovar as matrículas, entregando os impressos aos alunos, recolhendo-os esparsamente ao longo dos dias, verificando se estão correctamente preenchidos pelos pais ou se devem ser completados, e, é claro, andar atrás dos relapsos; tudo isto para garantir que não haja abandono escolar, mesmo antes de terminado o ano e de feitas as avaliações. 

Além disso, é preciso iniciar o processo de "avaliação extraordinária" daqueles alunos que estão em risco de repetência repetida; é preciso enviar ao Serviço de Psicologia uma ficha individual; é preciso convocar os Encarregados de Educação destes alunos para saber a sua opinião.

Detrás dos biombos onde atendemos os pais, ouvi a seguinte conversa:
A DT: - Gostava de saber o que é que a senhora acha que será melhor para a sua filha: passar de ano ou repetir...
A mãe - Passar, claro que não! Atão ia ficar burra, tem que aprender outra vez tudo. Se passa fica burra. Há-de comer o pó do chão.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Sucesso


Hoje, mais uma vez, obriguei os alunos a fazerem fila por ordem numérica antes de entrarem na sala. Resistiram ainda. Mas avisei que se não souberem fazer fila não podem ir à visita de estudo. Mandei entrar em silêncio. A aula correu bem, sem barulho. Só nos últimos 15 minutos é que começaram a ficar um pouco agitados. Não havendo silêncio geral, disse que não podia fazer a correcção do exercício, que seria feita na próxima aula. E mandei-os fazer outro exercício. «Oh não...», queixaram-se alguns.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A mãe (2)


Chamam-me ao Conselho Executivo. No corredor, em frente da porta, uma mãe alterada reclama acerca da professora de matemática que na véspera mandou a sua filha sair da sala. Dizem-lhe que deve falar em primeiro lugar com a DT (comigo). Conta-me então que tentou falar com a professora de matemática, que ia a passar, mas que ela lhe virou costas, dizendo que falasse comigo. Explico-lhe que deve falar primeiro comigo, que sou mediadora entre as partes, para evitar que as pessoas entrem em conflito directo, o que não resolverá nada.

Acusa a professora de matemática de ser "malcriada e mal formada". E acrescenta, indignada, que a professora lhe escreveu um recado na caderneta recusando-se a tirar dúvidas à filha. Leio o recado: diz que a aluna está sempre distraída e a conversar na aula, e pede à mãe que fale com a filha para esta mudar de atitude. Mas a mãe insiste e acusa a professora de ser injusta, por ter mandado sair a filha só porque queria tirar uma dúvida e falou sem autorização. Explico-lhe que os alunos não podem interromper os professores, mesmo para tirar dúvidas, que isso prejudica a aula. Que se todos interromperem, a professora não consegue explicar bem. Interrompe-me sistematicamente. Digo-lhe que está a ter o mesmo comportamento que a filha. (Penso: se nem os pais sabem ouvir, muito menos o saberão os filhos instigados por eles ao direito egoísta de falar.) Ela acaba de escrever a reclamação, dirigida ao Presidente do Conselho Executivo. 

No dia seguinte, qual retaliação, manda-me pela caderneta o recado de que não autoriza a filha a ir à visita de estudo, por ser fora do horário escolar. Respondo que essa atitude prejudica consideravelmente a aprendizagem e a atitude da sua filha e esclareço que as visitas de estudo são obrigatoriamente marcadas fora do horário escolar para não prejudicar as aulas. Peço-lhe que reveja a sua posição.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A fila


A indisciplina de quinta-feira (e a minha irritação evidente) teve uma resposta hoje. Nas três aulas que dei à turma de 7º ano, fi-los formar fila, por ordem numérica, antes de entrarem na sala. Reagiram mal, resistiram, que não estavam no jardim infantil, diziam, mas parecem, respondia eu, e levou 10 minutos a obrigá-los a enfileirar, com boicotes sucessivos, encostos, encontrões, etc. 

Depois ordenei a entrada na sala em silêncio. Em vão. Após entrarem, começam como habitualmente a falar alto. Mas as aulas foram mais calmas. Expliquei-lhes que se não souberem andar em fila e obedecer não posso levá-los pela rua à visita de estudo que será dentro de duas semanas. Mas, sobretudo, consegui dominar-me para aguentar as 7-sete-7 aulas do dia sem a menor exaltação. Ao fim do dia, ainda guardava a sanidade mental. 

Quem levou por tabela foi a psicóloga que não conseguia calá-los depois da aula de matemática onde vários tiveram faltas disciplinares; mas conseguiu apesar de tudo, com mais facilidade do que eu, enfileirá-los para um jogo. Pergunto-me se todos estes jogos psico-sociais não servem realmente para infantilizar os miúdos e lhes dar a percepção de que tudo é uma brincadeira. Afinal, a fila à moda antiga é uma forma de aprender três requisitos fundamentais do ensino: ordem, autodisciplina, silêncio. O que falta em absoluto.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Área de Projecto


A tarefa era criar uma narrativa visual, feita de fotografias recortadas e palavras. Tema livre. Uma história, expliquei, com princípio, meio e fim. Levei as revistas, as tesouras e as colas. Os meninos mimados logo começaram a queixar-se: não queremos, não gosto de fotografias, só gosto de desenhar... Parece que quanto mais se quer agradar ou estimular os miúdos, mais ranhosos e caprichosos se tornam. Para eles tudo é uma chatice e uma seca. Depois lá se interessaram, mas a aula foi um caos, uma barulhada infernal e zanguei-me com eles...

terça-feira, 5 de maio de 2009

Brincadeiras


Uma brincadeira muito recorrente: as ninfas perseguindo os efebos. O inverso é mais raro.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O boicote



Hoje foi aula de "revisões" para o teste do módulo 4 - Textos Narrativos/Descritivos - da turma de 10º ano do curso profissional de informática. A turma está reduzida a metade daquilo que era no início do ano, pois os que lá andavam apenas a passar o tempo acabaram por desistir de aparecer. Desde início, quando incomodavam, os convidei a sair da sala, dizendo que não estavam no ensino obrigatório. Resultou.

Todavia, a dezena de alunos presentes não presta atenção quase nenhuma, à excepção de dois alunos estrangeiros. Os outros ou dormem ou conversam perifericamente, a maioria não tira apontamentos, nem sequer aqueles que eu escrevo no quadro, e é difícil convencê-los a responder e participar oralmente nas actividades pois estão completamente alheados. Quando os mando fazer um trabalho escrito, como conta para nota, lá o fazem, mas levam meia hora a responder àquilo que podia durar cinco minutos. Enfim, uma perda de tempo enorme. Um boicote sistemático.

E depois, num choradinho recorrente, lá vêm perguntar se podem ainda fazer mais um teste de recuperação, a ver se conseguem passar os módulos atrasados. Não vêem, não entendem, não sabem, não percebem que para passar é preciso saber um mínimo. Não, pensam que talvez um golpe de sorte os safe e estão convencidos - dizem-no mesmo - que eu tenho que lhes dar testes de recuperação até passarem. 

Assim se educa a responsabilidade na escola actual. Os alunos consideram que merecem tudo, só por estarem ali a levar seca. São os pais que os obrigam a estudar, mas os capatazes são os professores. Esperemos então para ver a maravilha que vai ser o ensino obrigatório de 12 anos. É caso para recuperar uma velha frase: vão trabalhar, malandros.