quarta-feira, 13 de maio de 2009

As escravas


Numa reunião de DT (directores de turma), queixa-se uma colega do excesso de trabalho e de tarefas novas avulsas e sucessivas que são descarregadas para cima dos DT. "Isto é uma escravatura", acrescenta com propriedade. E recolhe das restantes professoras (são todas mulheres) uma espécie de anuência silenciosa. 

Aproxima-se agora a fase final do ano lectivo: é preciso renovar as matrículas, entregando os impressos aos alunos, recolhendo-os esparsamente ao longo dos dias, verificando se estão correctamente preenchidos pelos pais ou se devem ser completados, e, é claro, andar atrás dos relapsos; tudo isto para garantir que não haja abandono escolar, mesmo antes de terminado o ano e de feitas as avaliações. 

Além disso, é preciso iniciar o processo de "avaliação extraordinária" daqueles alunos que estão em risco de repetência repetida; é preciso enviar ao Serviço de Psicologia uma ficha individual; é preciso convocar os Encarregados de Educação destes alunos para saber a sua opinião.

Detrás dos biombos onde atendemos os pais, ouvi a seguinte conversa:
A DT: - Gostava de saber o que é que a senhora acha que será melhor para a sua filha: passar de ano ou repetir...
A mãe - Passar, claro que não! Atão ia ficar burra, tem que aprender outra vez tudo. Se passa fica burra. Há-de comer o pó do chão.

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