sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Mediações



Esta foi uma semana de conflitos. Começou com o aluno de 10º ano que se recusou a sair da sala. Pela primeira vez - nesta turma - o meu verniz estalou. Levantei a voz e os alunos sentiram a minha irritação.

No dia seguinte, zanguei-me com uma colega novinha que optou por ser cúmplice dos alunos ao recusar-se a dizer, em conselho de turma, qual o aluno que ocupara, na aula anterior à minha, o posto informático de onde emanara a provocação sonora matéria de anterior participação disciplinar; e tanto mais cúmplice quanto os alunos lhe tinham contado a partida que me tinham feito; temia ela que eu minasse a sua boa relação com os alunos, apesar de ter eu afirmado claramente que não pretendia reabrir o assunto; apenas queria saber quem o fizera, para poder lidar com a sua psicologia. A quebra de solidariedade entre professores pareceu-me inaceitável e o conselho executivo concordou a posteriori comigo.

No dia seguinte, admoestei uma auxiliar por ter entregue a estes alunos a chave da sala, quando - segundo a regra mais simples do regulamento escolar - o primeiro a entrar e o último a sair da sala é o professor. A quebra desta regra é o suficiente para invalidar a minha autoridade; porque esta é a base de um pressuposto indispensável: quem manda no território da minha aula sou eu. Ao chegar à sala, pedi ao aluno que me desse a chave na mão; insisti 3 vezes. Ele recusou sempre; já irritada, peguei na chave pousada no puxador da porta e abandonei-os à porta da sala, dirigindo-me ao conselho executivo, onde uma professora mediou eficazmente a situação entre mim e a auxiliar, com desculpas mútuas e pacificação completa.

No dia seguinte, irritei-me com os miúdos de 7º ano porque não se calavam enquanto eu distribuía tarefas na aula de Estudo Acompanhado. No final, irritei-me de novo quando, ao exigir aos alunos de arrumassem carteiras e cadeiras, eles saíram ao atropelo e em confusão. Fechei-me na sala a chorar. Pensava eu ter perdido a face, mas nas aulas seguintes ambas as turmas se portaram como cordeirinhos e recebi nos corredores sorrisos de simpatia dos alunos. Parece que perceberam o meu desespero.

A terminar a semana consegui, finalmente, um encontro com a irmã de um aluno cuja encarregada de educação, a avó doente, não viera à escola uma única vez; a rapariga tem apenas 19 anos, mas age diante do irmão mais novo com uma atitude firme que me agradou; para azar, uma professora da turma passando por ali resolveu admoestar o rapazinho (ali presente) no seu tom tipicamente severo; a irmã foi aos arames e começou a dizer à minha colega que não admitia a sua má-educação, entrando ambas num diálogo de agressividade inaudita, que me foi impossível suster; quando a minha colega se afastou com comentários de desdém desrespeitosos, perdi um bom quarto de hora a acalmar a "menina senhora" (como lhe chamei), no esforço de - não desautorizando a professora - fazê-la compreender que não podia aceitar aquela atitude. Como o fiz já nem sei; cheguei a mandá-la calar-se e disse-lhe que talvez ainda não tivesse maturidade para se assumir como encarregada de educação do irmão; mas que era preciso pacificarmo-nos para podermos ajudar o aluno. O facto é que - apesar do distúrbio perfeitamente inútil - consegui depois falar com os irmãos, explicar-lhes o "plano de recuperação", incentivar o rapaz a trabalhar nas aulas para poder passar de ano, rever as participações disciplinares e tornar claro que não podia admitir que o miúdo andasse a intimidar os colegas de turma com agressões por parte dos seus amigos de outras turmas (dos mais mafiosos da escola), e isto sem poder revelar de quem provinham as informações que tenho; ao fim de mais de uma hora de conversa, saíram satisfeitos, agradecidos e a menina pediu-me até desculpa.

Mau-grado toda a frustação lectiva diária, descubro-me afinal capaz de aplacar a ira dos encarregados de educação, que não raro entram com duas pedras na mão, e de promover assertivamente a colaboração; no final até se despedem com beijinhos.

1 comentário:

novo mundo disse...

Que simpática Leonor... E ganhaste imenso com isso, não foi? O DV e a irmã continuaram os marginais de sempre e não conseguiste absolutamente nada a não ser... fazeres figura de parva!