sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A pergunta



Dado o elevado número de faltas e ocorrências anormais (os atrasos, as faltas de material, as participações disciplinares, etc.), desisti de andar a telefonar aos pais. E criei mais um formulário (a inventiva burocrática floresce a cada escolho) para poder comunicar-lhes (em anotação manuscrita) as faltas e ocorrências da semana anterior. As cartas seguem por correio azul na segunda-feira seguinte. E resulta: os pais não podem ignorar.

Alguns acorrem logo a conferir as faltas e a confrontar os filhos. E ouvem o relato das insolências, da indisciplina, da falta de aproveitamento, o sermão todo. Apesar de incrédulos, põem-se do lado dos professores, pois. Há quem insista: "mas a minha filha nunca foi assim; a minha filha não é assim comigo". E eu vou dizendo que nesta idade eles deixam de ser crianças e que os amigos e as influências da escola marcam muito; que o clima na escola é caótico, pois.

E quase a despedir-se uma mãe faz só mais uma pergunta: "A minha filha anda intrigada com a Sôtora tirar fotografias..." Sorrio e digo que é por gosto e que sempre tirei fotografias; mas que sei que as pessoas hoje em dia se sentem incomodadas e por isso evito fotografá-las de frente.

Depois fico a pensar como é estranho tudo isto. Tanto para os adultos como para as crianças - e talvez porque todos têm câmara no telemóvel - está instalada a desconfiança. O BigBrother foi quase há 10 anos e introduziu na nossa sociedade uma deformação ética. O tempo em que se tiravam fotografias sem maldade já passou. E no entanto, as pessoas expõem-se hoje sem pudor nos Hi5 e nos Facebooks...

Sem comentários: