terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O que falta



Hoje recebi a mãe de uma menina irreverente e, como tantos outros, revoltada contra a escola, desmotivada, absentista, etc. Quanto ao acompanhamento familiar, esta mãe explicou-me que sai de casa às 5 horas da manhã, regressa às 10, volta a sair às 17 e quando volta às 22h já as quatro filhas dormem. Supus que trabalhe em limpezas de escritórios ou semelhante. "Só as vejo ao fim-de-semana". De facto.

Contei-lhe que na semana passada apanhara a filha no corredor e tinha aproveitado para lhe perguntar, a ela e à amiguinha também revoltada, se havia alguma razão para estarem zangadas comigo ou com qualquer coisa que tivesse acontecido. Elas não me deram grande resposta, mas eu fui inventando possíveis razões e disse-lhes ainda que, se as mando sair da aula, não é porque queira castigá-las, mas porque é inevitável diante das atitudes que tomam. «É como os pais, também ralham com os filhos, mas não é porque não gostem deles», concluí.

Disse à mãe que, depois dessa conversa, tinha notado uma grande mudança na menina. Na aula seguinte de Língua Portuguesa, fez o melhor resumo da turma e eu disse-o em voz alta e dei como exemplo o trabalho dela. Pequenas coisas fazem imenso pela auto-estima de cada um, como se sabe. Falta às vezes a oportunidade de intervir. E provavelmente falta muito a estes miúdos a atenção dos pais.

O artigo de Daniel Sampaio sobre a escola tornada armazém de crianças é sobre isto clarividente.
(Público, 15-02-2009)

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