quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A irreverência



Há algo que me escapa nesta novíssima geração inculta; essa pseudo-irreverência de exigir sempre mais e provocar insultuosamente os mais velhos; será talvez apenas um sintoma do desrespeito e da má-criação tão tipicamente portuguesas, inflaccionadas pela difusa moral do salve-se quem puder e quem mais chico-esperto é quem mais vale que emana de altos cargos políticos como uma mensagem ecuménica; ou talvez nada disso, provavelmente já deliro.

O certo é que, hoje, numa simples aula de língua portuguesa, dada a incompreensão dos alunos acerca do termo "docente", escrevi no quadro: "docente = professor; discente = aluno". A altercação (sempre o mesmo chato, ultimamente) veio pronta: "Isso quer dizer que nós somos inferiores". Concordei, sorrindo ironicamente, mas depois afirmei com convicção: "Ninguém é inferior"; e repeti-o umas 3 ou 4 vezes. Expliquei então que a escola tem regras, como andar num autocarro tem regras; tais regras visam permitir que os alunos aprendam; e os professores são a autoridade que ensina e faz cumprir essas regras. Ninguém é inferior, voltei a insistir.

"Então como é que nós não valemos nada e somos o futuro?, inquire o rapaz. Respondi-lhe: nós pertencemos à humanidade, que tem muitos milhares de anos; essa humanidade tem evoluído muito, desde a descoberta da roda até à nossa era da electricidade e da informática; tudo isso se fez por transmissão de conhecimentos que foram sendo ampliados e desenvolvidos; a escola serve para transmitir os conhecimentos que vêm do passado às gerações mais novas, que por sua vez os irão transmitir às gerações seguintes. O basismo desta explicação, tão importante e tão misteriosamente ignorada, surpreendeu-me até a mim. Filosofia portátil para ignaros, hoje em falta.

Educados pela televisão e pela sua mitologia da juventude e do consumo, estes miúdos não têm cultura nenhuma, não sabem estudar, não têm a menor perspectiva do passado, ou sequer respeito pelos mais velhos. Acreditam em si mesmos, como deuses caprichosos.

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