segunda-feira, 24 de novembro de 2008

De Maquiavel a Kafka (2)



Antes da nova lei 3/2008, os alunos com Necessidades Educativas Especiais tinham direito a apoio dos serviços de psicologia e os que tinham dificuldades de aprendizagem tinham apoios educativos ou tutorias dados por professores com horas a isso destinadas.

Agora, as condições para obtenção de apoios de psicologia estão muito mais limitadas; e os apoios normais devem ser dados pelo próprio professor do aluno, e "de preferência dentro da sala de aula". Ora, se já é difícil fazer pedagogia diferenciada (nos tempos actuais mais do que nunca), pode bem perceber-se a impossibilidade que é dar apoio individual dentro das aulas colectivas.

E sendo o próprio professor o único incumbido de remediar os males, lacunas, atrasos e dificuldades de todo o tipo (que são muitas) dos seus alunos (que são muitos), nenhum professor deseja sobrecarregar-se de horas extraordinárias... para se tornar vítima do seu próprio zelo.

No entanto, a lei actual determina que os alunos com dificuldades detectadas sejam sujeitos a Planos individuais de Acompanhamento ou de Recuperação. Mas, afinal eles são todos tão fracos que seria impraticável apoiá-los a todos. Então o que podem os professores fazer?

Se realmente eles têm dificuldade, faz-se como a lei obriga: apoia-se mesmo dentro da aula. Portanto, baixa-se o nível. E se os alunos foram apoiados, então, devem passar, porque evoluíram o mais que podiam. Se o professor não declarou que um aluno precisava de apoio, então não pode retê-lo (chumbá-lo). Assim no fim do ano passam todos.

Os que são bons alunos, os coitados, também deveriam ter apoios educativos para compensar o baixo nível de exigência e desenvolvimento cognitivo que é pedido à maioria. A falácia da pedagogia diferenciada e a hipocrisia dos apoios educativos serve, afinal, apenas para promover a passagem automática. E tudo isto resulta na nulidade do valor do ensino.

Mas, como já várias vozes vêm dizendo, pretende-se muito mais do que boas estatísticas. Pretende-se minar o ensino público, para abrir ao privado as auto-estradas da educação.

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