quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A bizarria



Na origem da confusão sobre a função docente - e sobre isso os professores são unânimes - está a idiotice das «áreas curriculares não disciplinares» (6 horas semanais no 3º ciclo).

A Área de Projecto - destinada a trabalho de grupo sobre temas de interesse dos alunos - é contraproducente; pretendendo promover a autonomia, a cooperação e a responsabilização dos alunos, faz exactamente o contrário; não se pode andar a fazer pesquisa só pela pesquisa; o trabalho de grupo é útil, mas aplicada dentro das disciplinas com objectivos de aprendizagem definidos.

O Estudo Acompanhado, tornado tempo curricular obrigatória para todos os alunos, impede o cumprimento dos seus objectivos específicos que são, segundo o despacho nº 19308/2008 que regulamenta o dec.-lei 6/2001:

«5 - O tempo atribuído ao Estudo Acompanhado deve ser utilizado parcialmente pelas escolas para apoio aos projectos em curso, designadamente:
a) Desenvolvimento do Plano de Matemática;
b) Apoio aos alunos com Português Língua não materna;
c) Realização de actividades no âmbito dos planos de recuperação e de acompanhamento dos alunos;
d) Programas definidos a nível de escola.
7 – Tendo em conta a diversidade de experiências vividas nas escolas e atendendo à sua importância para a promoção da melhoria das aprendizagens, a área de estudo acompanhado pode integrar, entre outras, as seguintes modalidades:
a) Desenvolvimento de planos individuais de trabalho e estratégias de pedagogia diferenciada de modo a estimular alunos com diferentes capacidades;
b) Programas de tutoria para apoio a estratégias de estudo, orientação e aconselhamento do aluno;
c) Actividades de compensação e de recuperação;
d) Actividades de ensino específico da língua portuguesa para alunos oriundos de países estrangeiros.»

Obviamente, nada disto pode ser realizado numa aula com 24 ou mais alunos. Não é possível fazer a almejada "pedagogia diferenciada" no meio do caos. E depois não restam horas disponíveis para os planos de recuperação individuais.

A Formação Cívica é a única não-disciplina que define genericamente, para o 2º e 3º ciclos, alguns conteúdos. Mas não os distribui pelos 5 anos de escolaridade ou por níveis de progressão. Resultado: repetem-se os conteúdos, que são dados aleatoriamente, como quem baralha e volta a dar as mesmas cartas. Assim se descredibiliza a necessidade e pertinência dessas aprendizagens.

Para cúmulo de tudo isto, as aulas de substituição são a causa mais directa do desrespeito dos alunos pela autoridade científica dos professores.

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