domingo, 28 de dezembro de 2008

O medo de existir + a não-inscrição



Após o episódio da pistola na Escola do Cerco, parece que finalmente se começou a falar do principal problema da educação, que tem andado a ser escamoteado:

“E é preciso ter a noção que muito casos são abafados pelas escolas, que tentam apresentar números de sucesso e preferem não atacar os problemas de frente”, conta uma outra fonte policial contactada pelo DN. “Muitas das situações são relatadas às autoridades apenas por interposta pessoa, ou então quando surgem na internet ou na comunicação social, o que torna muito difícil o nosso trabalho”, continua». (Diário de Notícias, 27-12-2008)

«Há que ser sincero e realista: não são nada esporádicos os casos em que as estatísticas da violência e indisciplina em meio escolar são abafadas logo na origem, porque existem órgãos de gestão que não gostam de entrar na lista negra dos organismos regionais e centrais do ME. Quantas vezes há participações disciplinares que acabam por não ser feitas, quantos processos acabam por ser arquivados, quantas ocorrências desocorrem apenas porque há avisos e conselhos do género, olha-lá-que-é-capaz-de-ser-pior-para-ti-e-para-todos… ou não-queres-que-se-saiba-isso-pois-não?» (Paulo Guinote)

«Neste momento há um factor a acrescentar. As escolas têm medo de perder a alunos se os casos forem tornados públicos. E nisto colaboram or orgãos de gestão e alguns professores.Não percebem que estão a atirar o lixo para debaixo do tapete. Uma qualquer oclusão cerebral cria-lhes a ilusão que nada se saberá. Obviamente que estão enganados. Tudo se sabe, e os pais retirarão os filhos dessas escolas, exactamente por nada ter sido feito. A atitude tomada com o objectivo de não perder alunos fará perder muitos mais». (comentário)

«O pessoal está a sair do armário!! A indisciplina está generalizada na escola! É verdade que os executivos tentam mistificar as coisas para não estragar a imagem! Na minha escola os CEFs são indescritiveis!» (comentário)

«Enquanto não nos levantarmos em força contra a guerra civil que se vive nas escolas… merecemos!» (comentário)

«Tal como demonstrado em vários estudos, se a falta de disciplina não for atacada cedo, tende a agravar-se e a generalizar-se por efeito de contágio.» (comentário)

«Os alunos sentem-se sempre inseguros ao denunciar este tipo de problemas. Está algo podre nas nossas escolas…E é já há algum tempo.» (comentário)

«Na minha escola vejo instalar-se, mês após mês, ano após ano, a lei da selva, a lei do mais forte. As cenas de pancadaria repetem-se, tornam-se rotina, com os responsáveis a gozar de toda a impunidade.» (comentário)

«Achei o filme “A Turma” muito soft, nós temos material para um filme daqueles com muito mais acção.» (comentário)

«O filme é soft. Quem fica impressionado com aquilo não faz ideia de muito do que passa por aí.» (Paulo Guinote)

«Dito de outra forma, maus mesmo são os telemóveis que "filmam". Se os proibirem nas aulas, acabam magicamente os "problemas". O que não se vê, não existe.» (Portugal dos pequeninos)

«O que parece preocupar as autoridades escolares não são os episódios desta natureza mas sim a sua divulgação. Se não forem divulgados, não existem. A escola pública está num estádio de negação da realiadade. A avaliação dos professores é a fingir; a avaliação dos alunos caminha para tal; a indisciplina e a violência sobre professores, funcionários e alunos só existe quando é filmada.» (Ramiro Marques)

«Todos sabemos que a maior parte das ocorrências não são relatadas. Os professores ouvem todo o tipo de insultos e de ameaças dentro das salas de aulas e raras vezes participam das ocorrências. Porquê? Toda a gente sabe que um professor que participe de uma ocorrência dessas é um docente marcado. Com a ameaça da avaliação burocrática de desempenho, isso pode significar um irregular. Certamente, o impedirá de ter acesso a um Muito Bom.» (Ramiro Marques)

E José Gil sobre a não-inscrição: « -A não-inscrição neste caso é o Governo ignorar isso tudo? - Totalmente. É um exemplo típico de não-inscrição. Totalmente. Não só não-inscrição. Há pior do que isso.» (Correio da Manhã, 28-12-2008)

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