sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Avaliações (2)



Dia de reuniões. Na "minha" turma de 7º ano, metade dos professores dão mais de 50% de níveis negativos e apresentam a devida justificação por escrito. As causas são: desinteresse, recusa em trabalhar, má preparação, competências não desenvolvidas, indisciplina, faltas repetidas, etc. Destes 24 alunos, 15 serão sujeitos a "planos de recuperação" no próximo período, o que significa apoios extra a alguns (sujeito às disponibilidades para apoios educativos nos horários dos professores) e medidas de apoio dentro da sala de aula, além do necessário acompanhamento em casa pelos pais. Ou seja, mais de metade da turma, a que não quer aprender, será considerada como estando em regime de recuperação nas mesmas aulas onde não querem estar.

Pressenti - e percebi - que os professores estão fartos da palhaçada da avaliação e não estão já dispostos a participar na fraude estatística do sucesso educativo. As notas espelham uma realidade incontornável. Não é possível trabalhar nestas condições. Pois o ministério reduziu os meios necessários para horas de apoio individualizado e para serviços especializados de apoio psicológico. Em acta de conselho de turma ficou escrito que só se conseguiria trabalhar com turmas com metade dos alunos, como acontece em algumas disciplinas científicas e artísticas. Ou com o regime de co-docência: dois professores na aula.

Mas a opinião pública continua a pensar ou a fazer crer que os protestos dos professores se devem apenas aos trâmites da sua própria avaliação. A razão por que 75% se pudesse deixaria esta profissão é por tudo o mais que nos inferniza a vida: o desrespeito geral, a indisciplina, a falta de condições e a burocracia que nos retira tempo para trabalhar para os alunos. Por isso, a palavra de ordem mais usada tem sido: "Deixem-nos ser professores". Parece que ninguém entende ou não quer ouvir este apelo, que é de desespero.

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