quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A lei da selva



Último dia de aulas. Os alunos organizaram uma festa, com muitas sandes e bolos caseiros. Às cinco da tarde começa a música a bombar. Os professores que iam dar as aulas do fim do dia dizem: «Mas como é que se pode dar aula com este barulho todo?» Deixam os alunos sair. E subitamente - neste território onde não é habitualmente permitido os alunos andarem pelos corredores - juntam-se centenas de miúdos excitadíssimos e em correrias por todo o lado. No exterior, começa a porrada. Professores e auxiliares metem-se à confusão. Já há miúdas a chorar e rapazes aleijados. A multidão junta-se em grande agitação. Um pai - o pai do miúdo mau - já quer bater não sei em quem e já o agarram furioso. Vem a direcção e levam-nos para cima.

Eu volto à zona da festa, a ver como as coisas estão. Nenhum adulto à vista. Explode um projector de luz. A música é logo retomada. De seguida, dois miudinhos começam a fazer esguicho do bebebouro apontando ao outro projector. Vejo aquilo e consigo agarrar um que puxo pela manga do casaco até ao Conselho Executivo, enquanto ele se debate agressivamente. Chego lá acima e - qual milagre - a polícia já lá está. O agente fala com o miúdo que, depois de muitos protestos, se acalma e senta. O polícia vai falando: «Tu portas-te assim com uma professora? Tu falas assim comigo que sou polícia? Tu não deves estar bom da cabeça». O miúdo tem uns 11 anos. Depois de muito apertado lá diz como se chama e de turma do 5º ano é. De repente chega um rapaz de uns 16 anos e bate no ombro do polícia que está agachado a falar com o puto. «O que que passa? Este é o meu irmão». O polícia levanta-se devagar, cresce diante do graúdo: «O senhor espere que já falo consigo». Impassível e ameaçador, o outro exige: «Quero saber o que é que fizeram ao meu irmão». «Espere que já falo consigo». Conclui a conversa com o miúdo e vai falar com outro, que nem o respeita nem o teme, nem se demove. Se é assim que tratam os polícias, como não tratarão os professores... Nunca visto.

Afasto-me. Uma colega diz-me: «Cuidado, Leonor, ao descer, que andavam a dizer que tinha batido no miúdo». Saio com algum receio. Enfrento com o olhar o outro miúdo que antes fez explodir o projector. São 18 horas, lá fora já está escuro e a miudagem anda agitada. Mal se vêem, mas ouvem-se bem, crianças frenéticas a correr atrás dos arbustos e dos carros. Como o jardim está mal iluminado, penso.

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