quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O medo de existir (2)



Desde que na semana passada debatemos - na aula de Formação Cívica - a questão da violência escolar, e eu afirmei peremptoriamente aos meus alunos - "estou aqui para vos ajudar, e todos os problemas que tiverem devem contar-me, ou devem participar, porque se não o fizerem é que nada se pode resolver" - desde esse dia começaram a chover pequenas queixas: aquele bateu, aquele roubou, aquele ameaçou...

Quando hoje levei, de novo para a aula de Formação Cívica, um texto sobre "bullying", já estava a ser ultrapassada pela realidade. Uma miúda refugiava-se no posto médico, depois de levar com um projéctil de uma colega no olho. Estava com medo de ir para a aula e sentei-a na minha mesa. Falaram vários, entre berros e chamadas de ordem (e nem houve tempo de ler o texto).

Uma miúda decidiu interpelar-me: «Ó setora, diga-me só: se lhe batessem, o que é que fazia?» Nunca me tinham feito tal pergunta, mas respondi: «Tentava fugir e pedir ajuda, fazia queixa». «A setora ficava-se?!» Percebi que ela também nunca tinha ouvido tal resposta. Fomos ambas surpreendidas uma pela outra. Na "ética" destes miúdos, uma pessoa que não dá troco quando "leva" não tem... valor, força, prestígio? Não sei, não entendi bem...

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