quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Zero em comportamento



Não sabem estar quietos no lugar; não pedem para se levantar; interrompem permanentemente; falam vários ao mesmo tempo; não sabem escrever, não corrigem os trabalhos; não trazem material para a aula; ou não o tiram da mochila; arrastam as carteiras ruidosamente; deixam a sala desarrumada e suja; não sabem (ou não querem) executar tarefas simples de preenchimento de uma mera ficha de organização; não sabem trabalhar autonomamente; nem colaborar. Mas não são todos assim, são só demasiados para deixar que os outros possam aprender.

Como é que isto chegou aqui? Não sei bem. Acho que foi quando se instituíram as aulas de substituição e se prenderam os miúdos nas salas de aula sem propósito nem objectivo. Fazer uma ficha tornou-se um frete ou um castigo; e qualquer ficha se tornou sinónimo de amendoim para macacos. O professor que não ensina desce de nível, perde a autoridade científica, torna-se mais um auxiliar de educação, perde o respeito dos alunos. Depois a coisa propaga-se, generaliza-se, cresce, não tem limites. É uma bola de neve. Ninguém a consegue parar.

Pela mesma altura vieram as "áreas curriculares não disciplinares" - Área de Projecto, Estudo Acompanhado, Formação Cívica e ainda Assembleia de Turma (6 horas semanais no 3º ciclo) - onde não há programa organizado, não há conteúdos, há apenas os "objectivos gerais" de "desenvolver competências" de "autonomia, colaboração, responsabilidade, pesquisa e comunicação". Tudo isto - por muito boas intenções que tivesse - se tornou um pântano. A escola afunda-se neste pântano. Os professores perderam as ilusões: «É o fim da escola», dizia-me uma colega - e dizem todos.

Alguém ouvirá os professores? Não. Mas alguém melhor que os professores sabe o que fazer na escola? Ninguém. A verdade é que assim não funciona. Aliás, funciona muito pior do que dantes.

Temos que voltar ao grau zero do comportamento. E só quando se restabelecer o respeito pelos professores e a calma na sala de aula, conseguiremos ensinar alguém.

Mas como? Se os professores - nesta fase agudíssima de hecatombe da escola - se vêem coagidos por uma "avaliação de desempenho" que pretende fiscalizar a eito e por atacado o trabalho de todos num só ano? Então os professores deixam de marcar faltas disciplinares, para não confessarem a sua impotência, para não mancharem o seu currículo, para não comprometerem a sua progressão na carreira. Então, os professores passam todos os alunos, porque, se os não passarem, terão que lhes dar - a esses - aulas de apoio suplementar - mais do mesmo. E assim evitam inúteis justificações escritas e avaliações extraordinárias acerca das razões por que não passaram tal e tal aluno. O tempo em que era simples chumbar um aluno, porque ele faltava ou não fazia nada, acabou. Os alunos sabem isso e aproveitam-se. Não há qualquer sanção. São impunes.

Os professores, de missionários que eram, passaram a demissionários. Suportam tudo porque já não aguentam nada.

Professores, está na altura de passar à desobediência civil. Havemos de descobrir como.

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