terça-feira, 2 de junho de 2009

Os recuperáveis


Como já aqui tenho contado, os alunos de 10º do curso profissional de informática têm-me dado mais preocupações do que seria de esperar neste nível, até pelo facto de estarem numa via vocacional. Boicotam sistematicamente as aulas, não tiram apontamentos, criam conflitos, etc. Entretanto aproxima-se o final do ano e aqueles que não conseguiram passar alguns módulos, querem fazer mais testes de recuperação.

Explico: «Já fiz três testes para cada módulo (dois de recuperação) e se não conseguiste fazê-los é porque não sabes o suficiente. O que nem admira, pois não estás com atenção na aula nem fazes os trabalhos pedidos».
Mas o rapaz tem outra engatilhada: «E não dá para puxar este 7 para 10?»
Respondo: «Deves estar a brincar. Existe um programa com mais de 100 páginas, um programa que vocês nem conhecem, mas que corresponde ao que está no vosso manual. Se tu nem o livro trazes, de que estás à espera? Pensas que nasceste ensinado?»
«Mas a setora tem a obrigação de nos fazer testes até a gente passar», diz revelando a sua estratégia.
«Era o que mais faltava», respondo na minha lógica de professora de outros tempos. «O programa que eu tenho de cumprir deve preparar-vos para poderem, se quiserem, fazer o 12º ano. Ora, para isso não me parece que estejas preparado».

Estes miúdos habituaram-se a passar de ano automaticamente e agora, chegados ao limiar da idade da razão, já pensam que isso é um direito, uma exigência. Não trabalham, mas acham que os professores não só têm de aturar a sua má-criação e arrogância como ainda têm obrigação de lhes dar notas boas, só pelo facto de eles cumprirem o proforma do teste.

E agora o admirável secretário Valter quer instituir, também no secundário, os Planos de Recuperação - e com isso tornar a vida infernal aos professores, obrigando-os, como no ensino básico, a fazer tantos planos e medidas de recuperação que na prática impeçam o "chumbo". E os meninos reizinhos é que tocam a caixa pela qual marcham os docentes. Tudo isto é insultante.

Mas ao contrário do que possa pensar - e é preciso que se diga - estes planos de recuperação são uma farsa. São uma quantidade de parâmetros que é preciso preencher para cada aluno em cada disciplina, e fazer assinar pelo encarregado de educação e pelo próprio aluno, como uma espécie de contrato, para que, depois, se o aluno não recuperar, já não seja possível chumbá-lo, "uma vez foi feito tudo o que era possível para o recuperar" e, portanto, automaticamente ele recuperou o máximo que era possível, pelo que deve continuar a "progredir ao seu ritmo".

Na minha direcção de turma de 7º ano, tenho 15-quinze-15 planos de recuperação. São um mero expediente burocrático. Ocupam demasiado tempo a preencher, mas na prática, nenhum professor altera as suas práticas na sala de aula, pois não é possível diferenciar o ensino a este grau, como demagogicamente se proclama.

Se querem ver um exemplar destes planos, e à falta de um da minha escola, encontrei este: http://agvl.ccems.pt/docs/AnexosPCE_II-SV78.pdf

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